Eu gosto do Natal. Gosto de tudo o que acontece no Natal, que é sempre como escrevi há um ano:
Começa a azáfama. Último jantar de Natal, velhos amigos com novos rumos que se encontram uma vez por ano. Amanhã parto para a minha Mira, lá me esperam a família, a lareira, o musgo que vou buscar à tarde com o Papi (este ano não queremos pinheiro, houve muitos que arderam) e quando chegarmos a casa vai cheirar a rabanadas que a Mãe e a Mana estarão de certeza a fazer. O Cupi não me vai largar enquanto estiver a fazer o Presépio. Desembrulhar cada um dos personagens no papel de jornal do ano passado: desde a mais pequena ovelha ao Menino Jesus. Montar a cabana que há anos fiz com o meu Pai e que ainda hoje consegue manter-se inteira. Última peça do presépio: O Anjo do presépio antigo de casa dos avós, que vela pelo Menino que acaba de nascer. Sentir o cheiro doce da canela e preparar a mesa para o jantar. As mensagens dos amigos. Os presentes bem escondidos porque a Mana ainda gosta de ir bisbilhotar, apesar da fúria da Mãe. Ir trocar de roupa porque estou cheia de terra e musgo. Limpar todo o lixo que fizémos antes que a Mãe apareça. Sentar no sofá e esperar o resto da família. Viver cada momento como se nunca tivesse sido Natal. Pensar que podia ser todos os dias...
A diferença é que a cabana onde nasce todos os anos o Menino Jesus em minha casa se encheu de caruncho e o Papi deitou-a fora. Já fiz uma birra. Já mandou fazer outra, ainda assim não vai ser a mesma coisa, aquela fomos nós que fizemos há muitos anos atrás. Repito: já fiz uma birra, acho que o Pai já se arrependeu. Vou continuar a fazer birra.
A outra grande diferença é que este ano temos outro Menino Jesus, ainda na barriga da Mãe mas que já trato como se já tivesse vindo ao mundo. Este ano, os poucos presentes que compro (acho que já afirmei que me irrita esta onda consumista do Natal) são para ele. Para o ano vou começar a fabricar presentes em vez de os comprar, para dar um bom exemplo ao meu Vasquinho.