Na vida real as aparências estão do outro lado do espelho. Na vida real não me assemelho à simulação das evidências (SG)
segunda-feira, dezembro 26, 2011
quarta-feira, dezembro 21, 2011
sexta-feira, dezembro 16, 2011
quinta-feira, dezembro 15, 2011
sexta-feira, dezembro 09, 2011
À Mãe
Da mãe, os filhos só vêem o que é mãe. Só conhecem a mãe. A mãe é sopa e o cheiro dos refogados. A mãe é a mão que esfrega as costas no banho, que escova o cabelo enriçado, que seca o cabelo molhado, a mão que afaga, que estraga. A boca que sopra a sopa, que sopra a ferida. Os filhos são os parasitas da mãe. Comem-lhe o coração que cresce da noite para o dia para que nunca lhes falte o pão-coração. O que é que a mãe quer? A mãe não quer nada. Quem tem mãe, tem tudo, diz a quadra, e quem é tudo não precisa de nada. Então, o que há-de querer a mãe? Não é dela o coração que nos alimenta, que bombeia o amor que nos entra nas veias, que nos corre na casa? E quem é que quereria a mãe? Se a mãe ainda quer, se a mãe ainda sonha, se a mãe ainda crê, perde tempo. A mãe tem dois filhos. Nós somos tudo o que a mãe pode querer, tudo o que a mãe está autorizada a querer. Quando respira, é mãe. Quando passa a roupa, é mãe. Quando come, é mãe. Quando aquece o prato solitário no micro-ondas, quando, à noite, vê televisão em silêncio, quando adormece sozinha na cama, quando na cama acorda sozinha, quando o corpo se move nos sonhos e não toca ninguém, quando toma banho e a água escorre pelos veios do corpo e só a água visita certas sombras de corpo, é sempre mãe e mãe e mãe. A mãe não pode dizer nada. Não pode dizer que está farta desta merda e que quer desistir, que está cansada de ter uma vagina e um útero que só existem nas consultas de ginecologia, que só existem para as dores, os miomas, as hemorragias. A mãe não pode sofrer por ela, porque mãe é mãe, só há uma, mater dolorosa, pietà de filho morto nos braços; e a piedade que ela merece? Os braços que hão-de segurá-la? (...)
Comboio Nocturno para Lisboa, Pascal Mercier
Gregorius é o narrador e o personagem central. A acção começa em Berna, mas depois parte para Lisboa, Coimbra, Cabo Finisterra, Salamanca. É uma acção densa e filosófica, em busca do sentido da vida de Amadeu do Prado, o autor de um livro que Gregorius encontra por acaso. Quase toda a acção é passada em Portugal e vai constantemente para o passado, época Salazarista vivida por Amadeu do Prado, mulheres de sua vida, família e amigos. Gregorius tenta fazer o reconhecimento do espaço em que Amadeu viveu, por não poder recuar no tempo.
Tenho sempre algumas dúvidas relativamente a livros traduzidos: neste caso, parece-me que há falhas e nem sempre as ideias são claras, não sei se por responsabilidade do tradutor ou do autor, ou por responsabilidade própria de uma leitura que não foi fácil e muito menos rápida.
quarta-feira, dezembro 07, 2011
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