“dêem-me o céu azul e o sol visível. Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim”.
Álvaro de Campos via uma ideia com defeito
Na vida real as aparências estão do outro lado do espelho. Na vida real não me assemelho à simulação das evidências (SG)
sexta-feira, outubro 28, 2011
quarta-feira, outubro 26, 2011
Lost in words
Veio calor de Praga, apesar do frio. As preocupações ficaram (voltaram) com o clima amargamente ameno. Nunca um Verão prolongado soube tanto a desencantamento. A tempestade adapta-se melhor ao estado de espírito. Não sou eu. É este país, esta Europa, este mundo. Um mundo que tem tantas coisas bonitas que fazem parecer que afinal vale a pena, mesmo quando tudo parece perdido.
Perdida. É isso.
Perdida. É isso.
segunda-feira, outubro 17, 2011
Inevitável é a tua Tia!
Sábado, 15 de Outubro de 2011. Várias cidades do mundo aderem ao protesto mundial do movimento dos “indignados”. Em Portugal, várias cidades para além de Lisboa e Porto organizam – como podem – o protesto. Em Coimbra, estava marcado para as 15 horas na Praça da República o início do protesto, e a Assembleia Popular para as 19 horas na Praça 8 de Maio. Passava pouco das 15 horas e lá fui eu. Porque acredito em movimentos apartidários – porque só com esses me identifico – e porque acho que, todos juntos, podemos fazer alguma coisa. Naturalmente que sou obrigada a reconhecer que estas últimas medidas “de austeridade” (um dia, se estiver para ai virada, escreverei sobre isso) serviram para ter a certeza do meu programa de sábado à tarde. Honestamente tinha coisas bem mais interessantes para fazer, mas achei que fazia sentido participar. Dizia eu que cheguei pouco depois das 15 horas, ainda poucas pessoas se viam na Praça, a maioria a pintar cartazes enquanto iam chegando mais alguns “indignados”. Não fiz uma análise profunda, mas fui fazendo a minha análise à medida que o tempo passava e ia falando ao telefone com alguns amigos (sempre ajuda a passar o tempo quando nos apercebemos que não conhecemos ninguém). Comecei por perceber que estavam muitos jovens estrangeiros: apercebi-me de um grupo de espanhóis, de alguns brasileiros, jovens que, suponho, estão a fazer Erasmus ou qualquer tipo de intercâmbio na UC. Jovens que perceberam a importância deste protesto e que, por não poderem participar no seu país, fizeram-no no país que os está a receber. Muitos outros, gerações mais velhas – talvez muitos deles da “geração de Abril” – pessoas da idade dos meus pais, pessoas que se preocupam (ainda que possamos referir que esses também tem a sua parte de responsabilidade no estado das coisas – não é isso que aqui interessa agora) e que fizeram questão de aparecer. Conhecia muitas pessoas de vista, algumas sabia quem eram, outras não sabia mas estavam ali. Eram muito poucas pessoas. À 5ª feira à noite vou à praça da República habitualmente beber um copo: nesta altura do ano, graças à praxe académica ou lá o que é aquilo, vejo mais gente na praça do que vi no sábado. Pergunto onde estão esses estudantes universitários que se lembram de andar a infernizar a vida de caloiros até às tantas da manhã, mas não se lembram que é o futuro deles que está em jogo neste mundo dito globalizado, virado para interesses económicos que em nada contribuem para o bem comum. Pergunto onde estavam os meus amigos de Coimbra, pergunto onde estavam todos aqueles que tantas vezes se insurgem e tão poucas vezes fazem alguma coisa para além de dizerem que estão “fartos”.
Fui como indignada, saí dali mais indignada ainda. Sem esperança. Com (ainda mais) vontade de ir embora.
Fotos retiradas de oblogouavida.blogspot.com
sexta-feira, outubro 14, 2011
Leituras
No momento em que caí das nuvens e tomei conhecimento da decisão de Joana de não continuar com a gravidez, e que até já apresentara a demissão ao patrão nessa mesma manhã, abati-me sobre os seus pés e, de cabeça tão baixa e humilde, que a mais não podia, como se ela fosse a deusa dos meus passos, supliquei que me deixasse ficar com a criança, que eu a educava sozinho, que seria um pai exemplar, que lhe prometia o que ela quisessem que lhe daria dinheiro para todas as despesas e mais alguma, que tinha algum dinheiro de parte para a educação e afins, que nunca revelaria a identidade da mãe. E era no corpo dela todos os meus sonhos. E o corpo dela desapareceu no nevoeiro das minhas retinas salientes, que pingavam copiosamente.
Regina Samagaio - "Entrevista de emprego"Há porventura quem acredite que um burro não pensa. Engano seu. Os burros são como os homens. Em ambas as espécies, há alguns dados ao raciocínio.
Emílio Gouveia Miranda – "João, O Trovador"
Maria era uma puta triste porque não sabia o que era o amor. Maria era uma puta rodada, experiente, envelhecida e mal-amada. Gastara o seu corpo no uso dos homens, perdera o caminho das emoções, esvaziara-se de sentimentos à conta de tanto os fingir. Quando deu por si, sentiu-lhes a falta como à casinha de bonecas que tanto quis e nunca teve e amargurou na ausência de um coração que ainda pudesse ser trocado pelo amor.
Maria João Lourenço - “Maria”
sexta-feira, outubro 07, 2011
quinta-feira, outubro 06, 2011
segunda-feira, outubro 03, 2011
Uma Noite Não São Dias, Mário Zambujal
O autor diz do livro "é uma paródia". Mário Zambujal tem uma escrita simples e clara e este livro não é excepção. Passa-se tudo no "esquisito ano de 2044", e MZ conta uma história em que de alguma maneira caracteriza uma sociedade fria, diferente daquela de hoje temos mas que muito facilmente pode caminhar para o que é a sua visão do futuro. Mas não em tudo: 2044 não é, do meu ponto de vista, um tempo tão longínquo que possa conduzir a tantas mudanças. Mais: creio que no meio da narrativa MZ foi pouco cuidadoso nos pormenores que umas vezes referencia, outras vezes parece esquecer-se que o fez.
É uma leitura rápida e interessante, mas a obra-prima continua a ser a "Crónica dos Bons Malandros", definitivamente.
Tubo de Ensaio parte III, João Quadros e Bruno Nogueira
É uma selecção de textos do Programa com o mesmo nome que passa diariamente na TSF. O próprio Bruno Nogueira diz com a ironia habitual, no prefácio do livro, que foi um exercício de copy-paste. É um conjunto de crónicas com grandes doses de humor, ironia e sarcasmo. Alguns textos são absolutamente brilhantes, e a imaginação e criatividade são constantes. A crítica que fiz à parte I, faço-a na parte III: Os textos não foram revistos, o livro contém demasiadas gralhas. É pena que não tenham aprendido à terceira, e que se verifique efectivamente que foi simplesmente copiar e colar.
Uma óptima escolha para leitura de praia.
Histórias Falsas, Gonçalo M Tavares
É uma recriação de histórias da filosofia. Gonçalo M Tavares fantasia acerca de histórias que conhecemos há séculos. "Não são histórias do género fantástico, mas um homem - de há três mil anos - pode nelas utilizar objectos que ainda não existiam." - palavras do autor. É uma leitura divertida, com grandes doses de humor e ironia. São nove, as "histórias falsas".
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