(...) Nem porque razão a tal depressão começa finalmente a desvanercer-se. Dúvidas, tenho muitas; explicações, nem uma. Direi apenas o seguinte: é a vida. Só nos resta aceitar a situação tal como ela se nos apresenta, sem fazermos questão de conhecer as razões que podem explicar tudo e mais alguma coisa. Como acontece com os impostos, o movimento das marés, a morte de John Lennon, os erros de arbitragem nos jogos do Campeonato do Mundo de Futebol.
(...)
Tal como eu tenho o meu papel a desempenhar, também o tempo tem o seu. E, é bom que se diga, o tempo cumpre o seu papel muito mais fielmente e com mais precisão do que eu alguma vez poderia fazê-lo. Desde que o tempo é tempo, lembrem-se (a propósito, quando foi isso, pergunto eu?), moveu-se sempre para a frente, sem um momento de descanso. E um dos privilégios concedidos àqueles que lograram uma morte precoce é precisamente o direito à velhice. Espera-os a honra da decadência física em toda a sua glória, e é bom que comecem a habituar-se à realidade.
Haruki Murakami, "Auto-Retrato do escritor enquanto corredor de fundo"
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