Está a aparecer no Facebook um movimento em que as pessoas dizem que vão trabalhar no dia 24 de Novembro, dia em que, pelo 2º ano consecutivo e de forma inédita, a CGTP e a UGT marcaram uma greve geral dos trabalhadores. Parece que há aqui dois lados da barricada: aqueles que em nome da “produtividade” pensam que temos é de trabalhar (como se o não fizéssemos, ou quiséssemos todos fazer) e os que encontram como forma de luta a greve. Acho que se defendem “causas” (ou lá o que isto é) sem se reflectir no que está aqui em causa. Não sou contra as greves – mal de mim! – mas penso que vivemos um momento em que não é a greve que vai resolver coisa alguma. O Movimento 12 de Março, que se espalhou entretanto por vários movimentos, o movimento 15 de Outubro levou milhares de “indignados” à rua contra a política, a crise financeira criada pela banca, os cortes dos salários e subsídios, o aumento dos impostos. Mas também surge – arrisco-me a dizer que surge principalmente – contra a precariedade, o desemprego, os tão célebres “falsos recibos verdes” e as condições gerais de quem trabalha ou quer trabalhar. É aqui que a questão da greve geral se coloca: para quê fazer uma greve geral quando há milhares e milhares de pessoas que a não podem fazer...?
Em boa verdade, há mais questões importantes, tais como para onde vai o dinheiro da “despesa” dos subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores do Estado, que políticas são estas que destroem todo o poder de compra e dignidade dos trabalhadores. Mas mais do que isso: será que estas pessoas que falam em “trabalho” e que “gostam” de um evento criado no Facebook com a Epígrafe “Trabalhar” e o seguinte texto: “Portugal está numa situação de emergência sobretudo provocada pelo anterior governo. Uma greve geral só vai prejudicar a economia e dar um sinal negativo para o exterior. No dia 24.11, eu irei trabalhar (bem como nos outros dias todos).” não percebem a manipulação? Ninguém discute que muito do que vivemos hoje é consequência do governo anterior, mas ainda não perceberam que esta história do “papão Sócrates” já enjoa? Terão noção de que tudo aquilo que correr mal neste Governo vai ter esse mesmo argumento durante 4 anos?
Somos todos uns mansos. Não são os feriados que interferem na produtividade (ou a interferir, não é significativo) nem as greves. Os trabalhadores portugueses andam desanimados: isso sim, interfere na produtividade. As pessoas andam angustiadas, preocupadas, sem esperança: isso sim, interfere com a produtividade.
Não farei greve no dia 24. Mas não o faço porque o mundo não gira à minha volta, porque acredito nos direitos daqueles que, ao contrário de mim (por enquanto) trabalham, respondem a uma hierarquia, têm horário de trabalho, têm todos os deveres de um trabalhador com contrato de trabalho e, no entanto, são “prestadores de serviços”. Não farei greve em nome daqueles que, por irresponsabilidade de alguns, por inércia de outros ou por inevitabilidade das condições económicas deste país não podem fazer greve porque estão desempregados. Mas não me lixem. Irei para a rua quantas vezes for preciso e nunca – mesmo nunca – em nome duma causa que não existe, da manipulação política deste “bem comum” que se tem apregoado.
2 comentários:
A greve surge como uma forma de pressão social - os trabalhadores - que permite a luta pelos seus direitos. Como é óbvio cria algumas situações de obstáculo - eu demorei 3 horas a chegar ao trabalho no dia da greve, por exemplo!
Contudo, acredito seriamente que, apesar desses obstáculos que mencionas, quando os próprios trabalhadores de outras classes profissionais se opõem ao direito à greve dos restantes, existe uma perda de força exponencial da parte dos mais vulneráveis: aqueles que são pagos pelo suor do seu trabalho (seja ele qual for!). Esta destruição da coesão social só leva a que as empresas - públicas ou privadas - tenham força para implementar medidas que vão contra os teus (os meus também) direitos fundamentais, e por isso é essencial a solidariedade, por mais "chatices" que crie! Primeiro eles vieram pelos funcionários públicos, eu não era funcionário público e não quis saber! Agora eles vieram por mim, e não havia mais ninguém para me defender... percebes?
No que toca ao piquete, o objectivo deste procedimento é impedir que o patronato tenha possibilidade de contratar trabalhadores temporários para substituir quem está em greve e, assim, escapar a esta pressão dos trabalhadores! Isto permite que, se tu decidires fazer greve, e o teu patrão te substituir nesse dia por um trabalhador temporário, que tu não sejas despedido e "substituído pelo trabalhador temporário - bem como te permite de facto ter possibilidade de demonstrar que sem ti, o estabelecimento pára! É essa a verdadeira força da greve: demonstrar que apesar de tu submeteres o teu trabalho ( a tua moeda de troca), és tu que em última instância permites o "salário" do teu patrão!
E essa é a beleza esquecida das relações laborais: tu precisas de trabalhar para viver, mas o teu patrão não vive sem o teu trabalho, porque são os dois juntos que permitem a produtividade, o desenvolvimento e o crescimento da empresa. Não achas que sendo assim devias ter uma posição muito mais igualitária e respeitada?
Já agora, tendo oportunidade: http://globehopping.wordpress.com/2011/11/09/a-greve-e-uma-chatice-porreiro-e-perder-direitos/
Cara Paula,
Obrigada pelo comentário. Creio que posso não me ter feito entender. Não sou contra a greve, nunca fui e nunca serei. Acredito neste forma de luta como acredito em muitas outras possíveis. Mais ainda, não me opus à greve, simplesmente tentei explicar porque não a farei. As minhas razões são simples (eventualmente simplórias) e não pressupõem a destruição da coesão social, muito pelo contrário. Aquilo que defendo - e que vem na sequência das manifestações de 12 de Março e de 15 de Outubro (http://joaninhaoulibelinha.blogspot.com/2011/10/inevitavel-e-tua-tia.html) é que não é a forma de luta mais adequada. Naturalmente que reconheço que pode ser uma de muitas, mas quando fui a ambas as manifestações, fi-lo enquanto cidadã, enquanto trabalhadora e em prol de um bem comum: a luta contra a precariedade, o desemprego, a injustiça social que nos afecta a todos. Fui a duas manifestações não politizadas, não organizadas por centrais sindicais, e onde se discutiram, em Assembleia Popular, inúmeras questões, entre as quais uma greve geral. A única questão que coloco é a seguinte: para quê uma greve quando muitos trabalhadores (demasiados, milhares e milhares) por definição, a não podem fazer? Para mim, é este o bem comum: formas de luta que possam incluir todos, e não apenas alguns.
(entretanto não li ainda o artigo, mas prometo fazê-lo com atenção!
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