Sem querer fazer juízos de valor acerca do "sim ou do "não" ao próximo referendo, não posso deixar de fazer referência a um tema que me deixa muitas dúvidas e que me transcende em alguns aspectos. Como muitos saberão, sou absolutamente contra referendos (chamem-me anti-democrática, reaccionária, comunista - adoro estes paradoxos!) porque considero que se votamos nas eleições legislativas ( como em todas as outras) é para escolhermos quem nos representa e quem deve tomar decisões, morais ou não, por nós. Para além disso, ultrapassa-me por completo o dinheiro que se gasta em eleições, campanhas, financiamento de partidos e de organizações da sociedade civil (ainda que estas, por princípio, se auto-financiem) quando esse dinheiro poderia muito bem ser empregue em planeamento familiar, muito urgente neste país, e que resolveria grande parte dos problemas de abortos clandestinos que temos.
Ainda assim não posso deizar de me indignar com a pergunta que em princípio vai a referendo: Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
Pois bem, ainda que o corpo seja, efectivamente, das mulheres (que considero uma benção, mas cada um sabe de si e do seu corpo) e não pretendendo dar lições de anatomia ou de educação sexual tão em voga nos dias de hoje, que eu saiba um filho (ou feto, ou o que lhe quiserem chamar) não se gera sem que o homem não tenha "voto na matéria". Quando uma criança nasce, aquela tão conhecida figura do "pai incógnito" já não existe e cabe às autoridades descobrir a paternidade da criança. Pergunto-me se uma decisão destas (ainda sou daquelas que acredita que nenhuma mulher gosta de a ter) deve apenas ser tomada pela mulher. Há coisas que me ultrapassam. Se os filhos não se fazem sozinhos para umas coisas, também não se fazem (ou desfazem) sozinhos para outras.
PS-Claro que a discussão não deveria ficar por aqui, a questão das clínicas (empresas) privadas estrangeiras estarem de olho na possível nova legislação para invadirem este país, a questão de entrar no Serviço Nacional de Saúde enquanto temos listas de espera infindáveis de operações vitais para alguns cidadãos. Não sou pelo sim, não sou pelo não. Sou pela noção de realidade. Sou contra a hipocrisia.
PS1-E depois temos senhoras como a Zita Seabra, essa grande ex-comunista e actual social democrata, que diz que o planeamento familiar é acessível a todos. Esta senhora defende o "não" e também não tem a mínima noção de realidade.
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