segunda-feira, janeiro 31, 2011

Brilhante



Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Agora, o humor

Passo o fim-de-semana sozinha em casa, como tantas vezes acontece (e ainda bem) apenas com a companhia do meu fiel canídeo. Toca o telefone fixo:
(Pessoa) - É da casa do ****? (não vale a pena escrever o nome do Papi, mas era por ele que procuravam).
(Eu) - É sim, mas ele não está.
(Pessoa)- Quem está a falar? É a filha que já tem meninos?
(Eu) - Não, é a irmã.
(Pessoa) - Ah... Daqui é a ****, então tu ainda és solteira? (o negrito e sublinhado pretendem demonstrar o tom entre o incrédulo e o crítico, não tive a capacidade de discernir).
(Eu, depois de um ligeiro ataque de riso) - Sou, sou. Mas de qualquer maneira se quiser falar com o Pai pode ligar no Domingo à noite.

Contei aos meus pais o maravilhoso telefonema, fui gozada mais ou menos durante meia hora. É bom rir em família.

Vá-se lá entender

Dou por mim a escrever na plataforma onde insiro a informação dos diagnósticos que faço às pessoas, informação essa que ninguém lê mas tem de estar lá, que como todos os Adultos nesta situação, o facto de virem a ter formação durante o dia impede-os de trabalhar na agricultura, fonte de subsistência independentemente do facto de receberem Rendimento Social de Inserção, uma vez que este valor não lhes permitiria subsistir sem os alimentos que conseguem tirar da terra. Apesar disso, a Adulta em questão tem motivação, pelo menos no que respeita à possibilidade do reconhecimento de competências, ainda que parcial, por ser um percurso mais flexível e que lhe permitiria conjugar o seu trabalho doméstico com a possibilidade de aumentar as suas qualificações.

Este trabalho às vezes é tramado.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

...

Ele - Precisas duma causa, é isso. Andas sempre à procura de qualquer coisa para defender, mesmo que seja a que te pareça menos importante.
Ela - Vai gozar. Até parece que ando para aí de bandeira em riste a lutar por qualquer coisa.
Ele - Andas. E sabes bem que andas. Não sabes fazer outra coisa, só que te está de tal maneira no sangue que nem te apercebes. As bandeiras estão no coração, sabes disso, não sabes?
Ela - Porco. Vai-te lixar, que eu vou dormir com uma bandeira enfiada na cabeça.

Os Subterrâneos da Liberdade II - A Agonia da Noite, Jorge Amado

É o segundo da Triologia que versa sobre os tempos da ditadura de Vargas no Brasil. É, como o primeiro volume, uma incursão histórica que ajuda a perceber uma parte fulcral da história do Brasil. Amado cria mais um romance através da história, mostra dois mundos (pelo menos) que à época se degladiavam - os que lutavam pelos direitos da classe operária e a burguesia que aspirava poder e dinheiro a qualquer custo. Não será um livro imparcial, nem pretenderá sê-lo.
Muitas das personagens se mantêm, outras aparecem. Doroteu, o negro estivador do porto que casa com Inácia, uma mulata que acaba por ser "a bandeira" da greve (o adjectivo bandeira não foi escolhido ao acaso). Ambos se unem pelo amor e por uma causa, Inácia morre a defender a causa.
Mariana e Manuela são duas peças centrais de ambos os lados da barricada: a primeira, comunista assumida e que vive para o partido. Manuela, que priva com esse lado burguês da sociedade brasileira (apesar das origens humildes) e que acaba por ser vítima da hipocrisia e mau carácter dos que a rodeiam.
Há também elementos dentro do Partido Comunista que traem, há greves, há mortes, prisões, repressão. Há uma enorme vontade de alguns para mudar esse Estado Novo, que presta vassalagem a Hitler e a Franco, que abre as portas aos americanos e que reprime o seu povo. Há, acima de tudo, uma causa.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Quotidiano

Fazes-me 50 perguntas por dia, 25 das quais eu não quero responder e as outras 25 são a repetição, com variações, das primeiras 25 às quais não quero responder. Fazes perguntas de resposta óbvia, e voltas a perguntar até ouvires a resposta que queres ouvir - coisa que quase nunca acontece. Tenho dias em que isso me tira do sério, outros em que resolvo rir-me. Em breve tudo será mais simples.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Viragem

Resolvi que ia deixar de ser tudo o que odeio e que tenho sido: centrada e mim, nos meus problemas, no que me provoca náuseas e às vezes desespero. Fui, por alguns dias - muitos! - tudo o que desprezo. Os problemas não são únicos, mas são os meus: a casa, o empréstimo, as dúvidas, os amigos que não foram (e que pelos vistos não são), a família, o trabalho, o Inverno - a merda do Inverno. Estive virada para dentro, no meu mundinho idiota em que tudo está ao contrário menos eu. Evitei escrever. Hesitei em falar (eu, logo eu...). Ausentei-me de mim, na verdade. Não me perdoaria nunca se assim fosse durante mais tempo. Estou de volta. 


PS - este post é o primeiro a que não dou permissão para comentários. Porque contra factos não há argumentos.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Tão simples, por Bruno Vieira Amaral

via A Douta Ignorância

O que seria de nós sem os comentários esclarecidos nos sites da imprensa? O homicídio…não, homicídio tem uma carga demasiado negativa, o acto de justiça que se abateu sobre Carlos Castro é de uma transparência cristalina. A “vítima” era uma bichona, um velho nojento, praticamente um pedófilo, que se aproveitou da inocência depilada de um rapazinho (tão bonito que ele é, e gosta de mulheres, tinha resmas delas), uma ingénua criatura de Cantanhede (em Cantanhede não há paneleiros, ora essa), um anjinho de Deus que vendeu a alma ao Diabo em forma de um sexagenário gordo e feio. O porco seduziu a pobre criança cujo único pecado era ter um sonho e lá foi ela atrás do sonho agarrada às calças do maricas. Estava mesmo a pedi-las. Estão todos a pedi-las. Andam para aí a meter-se com rapazinhos exemplares que até praticam desporto e sorriem aos concidadãos e estão à espera do quê? E nem se sabe se não foi a “vítima” a provocar a situação ou até mesmo a pedir para que o jovem lhe fizesse aquelas coisas, porque homens daqueles são uns pervertidos. Quem nos garante que a “vítima” não tentou coagir o rapazinho, que não tentou obrigá-lo a fazer coisas que este não queria e que o rapazinho, ferido no seu orgulho heterossexual, apenas se defendeu, espancando o verdadeiro agressor durante uma hora, enfiando-lhe um saca-rolhas no olho e cortando-lhe os tomates? Seria muito diferente se em vez de um paneleiro velho, estivéssemos a falar de um septuagenário heterossexual que andasse com uma “dançarina” brasileira (puta, claro está, porque estas são muito sabidas e querem é subir na vida porque lá na terra delas passam fome). Já se sabe que estas atrevidas só andam atrás deles pelo dinheiro e que eles aproveitam (quem é que, podendo, não aproveitaria?) para ferrar o dente em carne fresca, e fazem eles muito bem, provando a macheza do garanhão lusitano que nem no leito de morte perde a tusa. É tudo tão simples: a culpa é sempre dos maricas e das putas.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

A Chama Pura de William Blake, Tracy Chevalier

Autora de "A rapariga do brinco de pérola", Tracy Chevalier descreve Londres do sec. XVIII enquanto narra uma história fascinante duma famíla de província que se muda para a capital. Personagens improváveis, o Circo, a vizinhança... e William Blake. Numa altura em que as notícias da Tomada da Bastilha percorriam toda a Europa, começa a sentir-se na vida londrina um certo temor das autoridades relativamente a um possível contágio em Inglaterra dessa "terrível aliança contra o Rei". Há pessoas perseguidas, o medo está instalado. No meio disto, a família Kellaway e a história do tempo em que estiveram imigrados em Londres. William Blake, poeta simpatizante da Revolução Francesa, é vizinho dos Kellaway e acaba por ajudar e ser ajudado pelos quatro membros da família.
William Blake existiu realmente: foi tipógrafo, poeta e pintor. Oferece a Jem e Maggie - a minha personagem, porque eu tenho sempre uma! - as "Canções de Inocência" e "Canções de Experiência", editados em conjunto em Portugal pela Assíro & Alvim.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Preocupação

Ando cansada. Não vejo televisão, a política deixa cada vez mais de me interessar. Ando, como penso que a maioria dos portugueses, farta. Parece que anda tudo a precisar duma revolta, queremos todos mudanças e não há mudança à vista. O Presidente ou Candidato (fiquei na dúvida, mas uma vez que são uma e a mesa pessoa, não sei qual é a questão) Cavaco vetou a lei que simplifica para os transexuais a mudança de nome próprio no registo civil. Preocupa-me, mais do que o veto - porque sei bem que o senhor esteve pelo menos uma semana com azia com a promulgação do casamento entre pessoas do mesmo sexo - que isto não me preocupe. Ando virada demais para o meu umbigo, deve ser isso. Alegre anda a pisar terreno escorregadio e temo que vá levar uma bela duma abada nestas eleições - confesso que no meu íntimo ainda acho que é capaz de levar Cavaco à segunda volta e que muito provavelmente não será com a minha ajuda.
Dos outros nem falo: Defensor de Moura, nunca o ouvi e nem me apetece; Nobre já me irrita; F. Lopes se lhe ouvi uma frase foi muito; o Coelho da Madeira só me faz rir. Politicamente, é assim: vácuo.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

A propósito dos defensores das touradas e afins

Que fique bem claro: não sou e nunca serei vegetariana. Gosto de quase todo o tipo de carne e por alguma razão existe Roda dos Alimentos. Portanto não me venham os defensores das touradas e de outros espectáculos degradantes (mais para o homem do que propriamente para os animais) com o discurso do que se come, e que se mata para comer. É que é uma questão, para mim, do mais simples que há.
Não aceito que se usem animais - e principalmente o seu sofrimento - para um espectáculo bárbaro (sim, aqui sou tudo menos tolerante), onde nem há o espírito de jogo em que ou se ganha ou se perde. Na tourada, perde sempre o mesmo, ainda que de vez em quando o "lado mais forte" saia um bocadinho humilhado. Não é uma relação justa, não há duas partes com poderes semelhantes. E portanto não há justiça. Há argumentos que me recuso a discutir, como "o touro não sofre" ou "a carne é aproveitada" porque de tão idiotas que são, far-me-ia uma pessoa igualmente idiota tentar deitá-los abaixo.
Abaixo as touradas, pois. Sim, eu como caça (e que bem que me sabe) e até aceito a caça como um desporto com um objectivo: comer o que se caça. Não é verdadeiro o caçador que mata para ter o maior número de peças e depois as deita - ou parte delas - fora. Primeiro, porque há fome neste mundo. Neste país. Aqui ao lado, mesmo. Depois porque se assim for, a caça per si deixa de fazer sentido.
Sim, adoro arroz de cabidela, adoro tordos, perdizes e pombos. Adoro coelhinho, adoro entrecosto. Desde que não se faça da morte dos bichos um espectáculo e se provoque o seu sofrimento para nosso bel' prazer.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Da amizade

A propósito duma visita à minha pessoa no fim-de-semana:

"Queria tanto usar o meu carro novo... e ver-te tb, mas menos."

Obrigada pelo ataque de riso que me provocaste :)