sábado, novembro 12, 2005

Em branco


Pergunto-me o que estou aqui a fazer. Movida pela pouca assiduidade ao meu blogue, resolvi escrever qualquer coisita, apesar de estar profundamente cansada e com dúvidas se o meu dia (a semana inteira) cheia de coisas para fazer, praticamente sem parar, terá sido produtiva ou não. Já lá vai o tempo em que quando chegava a casa, de noite, cansada, tinha sempre aquele reconforto óptimo de que tinha feito imensas coisas e por isso estava tudo bem, até o cansaço. A semana ainda não acabou e estou completamente KO, mas sem saber se terá valido a pena. Aquela sensação horrível de que não fiz o suficiente, de que me devia ter dedicado ainda mais não me larga, talvez por pensar cada vez mais no futuro que me aguarda e que talvez pela primeira vez na vida não seja tão certo quanto isso. A incerteza corrói-me por dentro, puxa-me para baixo quando estou no ar que é quase sempre. Era.
Passeio pela cidade (não passeio, tenho um destino, mas finjo que passeio) e olho para as pessoas. Caminho pelas ruas íngremes de Coimbra e parece que vejo no andar das pessoas determinação, um fim a atingir. Olho para dentro de mim e quase que me gozo a mim mesma: vou alegre e saltitante, passeando. Não tenho no andar a determinação que vejo nos outros, mas sei que aprecio tudo muito mais que elas. Olho para os prédios, para quem passa por mim, vou pensando no que ainda me falta fazer... Olhos os prédios, as pessoas, os carros, as árvores... Ando devagar, muito devagar. Devo parecer satisfeita, porque sorrio. Até quando passo numas obras e ouço aqueles piropos típicos: faço um esforço enorme para não me escangalhar a rir. Aflige-me esta falta de seriedade. Aflige-me cada vez mais esta minha maneira de ver o mundo, os outros. Aflige-me acima de tudo que nada me preocupe especialmente, que percorro o meu caminho com um fim, que pretendo chegar a algum lado, mas devagar, quase no ar. Temo que se assim não fôr envelheça. Temo que já esteja a envelhecer por me preocupar com estas coisas: o riso, o olhar, o andar despreocupado. Mas nem por isso deixo de ser assim. Nem sei se quero.

1 comentário:

Ruaz disse...

Essa sensação de ter uma lista de coisas para fazer, essa impressão que temos de ir a algum lado, esse vazio de ainda nos faltar fazer isto e aquilo, a frustração por não termos sido suficientemente bons para conseguir outra coisa... ah , como tudo isso é irrelevante quando se tem a consciencia de que só estamos entre o céu e a terra, nada mais.