sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Mandela

Na vida apercebemo-nos que há determinados momentos em que, por muito que os anos passem, sabemos exactamente onde estávamos. Há 20 anos, eu estava em casa da Ana e do Gonçalo. Muito provavelmente a torturar o desgraçado do Sting, o cão que volta e meia tratávamos como se fosse um bébé.
Lembro-me perfeitamente de, na sala (julgo que durante a tarde, pelo menos é essa a imagem que tenho) o Fernando nos ter chamado a atenção para o que estava a acontecer. Qualquer coisa como "Vejam isto. É um momento histórico, que vai ser recordado para sempre". Lembro-me que não percebi porque dizia aquilo, mas sei que parei para ver, já que estava a assisitir a um "momento histórico".
Não tinha consciência política, ainda (e ainda bem!). Não sabia porquê, mas parecia-me muito injusto que um senhor já velhinho e sorridente tivesse estado 27 anos na cadeia.

20 anos depois recordo aquele momento que não compreendi na altura. Hoje, já com a (possível) consciência política formada (ou deformada, depende da perspectiva!) penso que há coisas que vão muito para além da política. Mandela esteve 27 anos encarcerado, privado de liberdade por ter defendido a liberdade. 27 anos a viver num cubículo onde certamente o comum dos mortais teria dado em doido. Mandela passou a defender aquilo que a Humanidade ainda não compreendeu que pode ser muito bem a solução para tudo. Defendeu aquilo que tantas vezes insistimos em não fazer, ou que tantas vezes tentamos e não conseguimos. Mandela defendeu o Perdão, "o maior poder de todos".

Hoje agradeço a felicidade de me lembrar daquele momento (obrigada, Fernando!). Hoje que o compreendo, resta-me apenas prestar uma pequena homenagem a este grande homem. No filme "Invictus", de Clint Eastwood, baseado no livro de John Carlin, recentemente estreado em Portugal, conta-se parte da história. Uma das frases que Mandela diz (na figura de Morgan Freeman) é "Forgiveness liberates de soul. It removes fear. That is why it is such a powerful weapon". Invictus é também o nome de um poema de William E. Henley que inspirou Mandela e que termina com estes dois versos duma "brutalidade" impressionante:

I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


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