Lembras-te quando éramos só nós, quando jogávamos a tudo (inclusivamente a quem batia melhor - eras sempre tu, é verdade.)? Lembras-te de quando ias embora e eu morria de tristeza? Quando eu ia embora e tu ias dormir para a minha cama quando as saudades apertavam? A excitação do regresso da que partia, mas sempre chegava, lembras-te? Lembras-te quando me zangava contigo e deixava por te tratar como sempre te tratei para te passar a tratar pelo teu nome? Lembras-te da quantidade de vezes que me enganava, porque sempre me soou mal tratar-te pelo nome?
Quando começámos a crescer e eu fui embora. Depois voltei e foste tu. Nunca mais voltaste, só de vez em quando. Quando chorámos abraçadas porque o Vagabundo das Estrelas tinha desaparecido, que crescidas que já éramos. O teu quarto está (quase) sempre vazio, a porta sempre entreaberta. Todos os dias se fala de ti, e não é de agora. A diferença é que agora quando se fala de ti se fala a dobrar.
Muitas vezes apetece-me ser pequenina outra vez. Agora apetece-me menos, deste-me um bom motivo.
Numa coisa somos exactamente iguais: na dificuldade que temos em dizer a quem gostamos que gostamos. Já não sei há quanto tempo não te digo que gosto de ti. Acho que desde pequenina, desde aquela fotografia em que eu ainda nem falava e tu tomavas conta de mim (sim, aquela na parede do meu quarto).
Em muitas outras coisas somos completamente diferentes: pensamos de maneira diferente, acreditamos em coisas diferentes. Discordamos muitas vezes.
Para além dos elos óbvios, há um que nos une cada vez mais e com cada vez mais força. E foste tu que o criaste. Não podia ser mais grata.
1 comentário:
É também por textos como este que gosto de ti. É uma grande verdade.
Lindo!
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