quinta-feira, abril 08, 2010

Eu até nem ia escrever nada sobre o assunto...

... mas de facto não aguento. Definitivamente não é da minha natureza. Os jornais, os “opinion makers” deste tão belo país “à beira-mar plantado” já disseram muita coisa. Uns a favor, outros contra. Estou a falar dos prémios que António Mexia vai receber na EDP. Acho que anda tudo louco. Não, não sou fundamentalista. Sim, acho que os bons trabalhadores devem ser bem pagos. Sim, o mérito deve ser reconhecido. O problema é que não é nada disso que está em causa. A questão não é o facto de os prémios serem relativos a outros anos que não 2009 ou 2010 (até porque, se bem se lembram, a tão apregoada crise que serve de argumento para tudo, começou, na realidade, antes). A questão – ai, tão simples que é esta questão! – é que a EDP, ainda que seja uma empresa privada, é-o com capitais públicos: o Estado (todos nós?) é o maior accionista. O mesmo Estado que pede “sacrifícios” aos portugueses que, em média, ganham 10 vezes menos do que esse senhor. Esse senhor, em boa verdade, nem sequer tem legitimidade para abrir a boca em sua defesa: Terão que se assumir sacrifícios no curto prazo por forma a obter vantagens no médio prazo, devendo esta geração evitar carregar inutilmente as próximas. (in http://www.compromissoportugal.pt/).

Defendi que não devia haver aumentos nas circunstâncias em que estamos (correndo o risco de estar a ser profundamente injusta, aliás, sabendo eu que a minha circunstância não é necessariamente a circunstância do comum dos mortais). Defendi que devemos fazer sacrifícios - correndo o risco de ser acusada de demagógica porque efectivamente (sem complexos) faço muito poucos sacrifícios, ou pelo menos não preciso de fazer tantos. Defendo e defenderei sempre (assim o espero) que não há justiça social sem que haja o sacrifício maior de alguns - sendo certo que esses "alguns" não serão concerteza os que já são "sacrificados" por natureza.

Pois bem, não me calarei. Não aceito que uma empresa que detém o monopólio da electricidade em Portugal (e não me venham com a história de que já há concorrência, porque a mim ninguém me deu a escolher entre a EDP e outra empresa qualquer, espanhola ou chinesa) pratique dos preços mais altos da Europa. Não aceito - não aceitarei nunca! - que um "bom gestor", seja lá o que isso quer dizer, que apregoa constantemente que o Estado devia ser menos intervencionista, viva às custas dessa mesma (já pouca)intervenção.
Vão-se lixar com a conversa de que esse senhor pôs a EDP a ser cotada em Wall Street, que é um excelente gestor, que lailailailailai. Chegou lá como todos chegam e até nem é isso que é importante, porque não me interessa saber sequer o curriculum dele. Ontem ouvia um "opinion maker" dizer que Portugal "sofre" de inveja, não pode ver ninguém bem, isto a propósito do mesmo assunto e por considerar que se exagerou na "adjectivação" da situação. Pois bem, a invejosa, aqui, diz: OBSCENO, PORNOGRÁFICO, NOJENTO, INACEITÁVEL. E chamem-me invejosa quantas vezes quiserem.

1 comentário:

Soba disse...

Muita bem! =D

Eu cada vez mais concordo com a renacionalização (paga, obviamente) da EDP. É um serviço público. É o exemplo perfeito de um sistema anti Robin Wood. Tira-se a todos para dar a alguns (os accionistas). Não faz sentido nenhum.

E ele podia merecer... se estivéssemos a falar de uma empresa que teve (mais) lucros por causa dele. A EDP tem lucro porque é um monopolista. Estar lá ele ou qualquer outro boy ou ex ministro dava na mesma coisa. Até nós! ;)

E sim, em tempos de crise podem existir prémios milionários. Mas não sob alçada do Estado e muito menos para depois virem pedir ajuda em tempos difíceis. Lembra-me os meninos rebeldes que depois têm mesada dos paizinhos... e isto não foi autocrítica, acho! =)

E sim, é irónico como as pessoas dizem uma coisa e depois, quando chega a altura de fazer, fazem outra. Falam todos de sacrifícios e limites de salários e congelamentos para aumentar a produtividade... mas é sempre para os outros.

Enfim!