Temos que saber enfrentar a nova realidade com uma nova moldura do contrato social que lhe está subjacente. Não apenas tornando-o mais eficiente e mais ético, reprimindo os abusos e os desperdícios, como igualmente promovendo uma mais sólida cultura de partilha de riscos. Um contrato que preserve o seu alicerce público, mas que não iluda as pessoas através de um Estado totalizante, na saúde, nas pensões, na educação. Um "Estado possibilitador" que tenha um critério social coerente e congruente com uma sólida igualdade de oportunidades e não com um ilusório igualitarismo. Um Estado Social que não se pode dissociar do sistema fiscal e da sua progressividade.
Por outro lado, o Estado Social não é uma entidade aparte de todo o Estado. Tem que haver coerência. Não se podem anunciar grandes investimentos para serem pagos daqui a 20 ou 30 anos, como se fossemos ricos, ao mesmo tempo que se diminuem as parcas pensões porque não haverá dinheiro. O dinheiro é o mesmo. A política implica opções, escolhas, renúncias e prioridades. É isto que se tem de dizer às pessoas. E não suscitar querelas emocionais com uma patética visão parcelar e de curto-prazo. Não desperdicemos tempo com o ruído da irresponsabilidade. Ainda aqui o que precisamos é de estadistas e não de ilusionistas.
Bagão Félix in Diário Económico
É assustador chegar ao ponto de concordar com a Direita mais à Direita (ainda que com argumentos, na sua essência, de esquerda).
4 comentários:
Sabes que ele - na primeira parte - está a defender a semi-privatização do Estado Social, não sabes? Com o «promovendo uma mais sólida cultura de partilha de riscos» e «Um contrato que preserve o seu alicerce público, mas que não iluda as pessoas através de um Estado totalizante, na saúde, nas pensões, na educação» ele está, de forma sempre bonita e muito misericordiosa, a defender uma redução do papel do Estado na Sociedade como forma de promover eficiência. E esse discurso primeiro abre a porta às taxas moderadoras e às propinas, e quando deres por isso tens cheques-escola para financiares o ensino privado católico e o fim da saúde gratuita para todos. É preciso percebermos se queremos uma saúde e uma educação gratuita ou não. Ponto final. Estas conversas dissimuladas sobre a necessidade de eficiência e de partilha de risco e de encarar o Estado como mau na sua tentativa de reduzir as diferenças económicas são, na minha opinião, verdadeiras caixas de pandora. Quanto à 2ª parte, nada a dizer.
Sobinha,
Sim, eu sei. Aliás, podia apenas ter publicado o último parágrafo - coisa que inicialmente ia fazer - e optei por publicar dos dois. Sei bem que é uma forma velada de dizer que o Estado deve ser menos intervencionista, mas na verdade, dos exemplos que deste (taxas moderadoras, propinas, ensino privado católico - a Universidade católica portuguesa tem um estatuto diferente das restantes Universidades Privadas) são já uma realidade. Desculpa, mas eu ainda assim concordo com a partilha de riscos: se por um lado as empresas (públicas e semi-públicas, eventualmente algumas privadas) beneficiam da "mão" do Estado, devem contribuir para esse tal "Estado Social". Ainda no mesmo parágrafo refere a "sólida igualdade de oportunidades" em oposição ao "igualitarismo ilusório", noção com a qual concordo inteiramente. Sendo certo que, no plano teórico concordo com BF, também sei que no que respeitaria a pôr isto em prática teríamos opiniões diametralmente opostas - e provavelmente resultados completamente diferentes (sem que consiga definir à partida quem teria melhores resultados). O que assusta realmente é que começamos a ver a direita a ter um discurso, não direi à esquerda, mas com noções e terminologia completamente de esquerda, isto num país com um Governo centro-esquerda (no plano, mais uma vez, teórico).
Tu concordas com o discurso dele porque Bagão Félix é um Católico ferrenho e não por ser de direita. E muitos dos princípios do catolicismo colidem com o liberalismo económico e recompensa pelo esforço e iniciativa da direita e aproximam-se à solidariedade e luta pela igualdade de oportunidades da esquerda.
“Sólida igualdade de oportunidades" e "igualitarismo ilusório” são a mesma coisa apenas com conotações diferentes. O conceito em ambas é o mesmo: igualdade de oportunidades para todos. No primeiro ele mete sólida porque é a igualdade da direita. Na segunda ele mete ilusório porque é a igualdade da esquerda. Se tirares o partidarismo da equação, são a mesma coisa.
Com partilha de riscos ele quer dizer que quem usufrui paga. É o princípio da direita. Ou seja, representa o fim da saúde gratuita (primeiro é taxa moderadora, depois pagas uma percentagem… e quando deres por ti tens um sistema igual ao americano; além de que este princípio abre a porta aos hospitais privados… porque eles vão acabar a defender que quem usa privado não deve pagar para o público…) e do ensino gratuito (blá blá blá). É isso que queres?
PS: adoro que me chames sobinha! =)
Bolas.... Sobinha vai mas é pró caraças, que quem costuma ter essas reações (ando a tentar habituar-me ao novo acordo ortográfico) sou eu...!!!! ok, sou básica e não consigo ler tanto nas entrelinhas como tu. mas caramba, "sólida igualdade de oportunidades" e "igualitarismo ilusório" serem a mesma coisa é demais!!! Pior: dizer que eu concordo com o homem porque ele é católico ferrenho (ainda por cima Opus) é um insulto à minha inteligência - mesmo que do meu ponto de vista grande parte do que o catolicismo (o verdadeiro) defende possa ser conotado como "esquerda" mas aqui eu gosto de deixar de lado as ideologias, porque ainda me sai aquela minha convicção (com o novo acordo como é que se escreve isto????) de que Jesus Cristo era comunista. Ups, já saiu. O que me estás a tentar dizer é que BG não disse nada do que disse. E até pode ser verdade, porque lembro-me que foi no tempo dele - e no Ministério dele - que se agiu completamente no sentido oposto. Mas eu continuo a concordar com tudo o que ele disse (sem as tuas entrelinhas, uma vez que, como sabes, se assim é sou completamente contra!)
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