É um conjunto de intervenções públicas feitas por Mia Couto em diversos contextos nos últimos anos. Muitos temas abordados, muitas reflexões a discutir, muitas das intervenções uma forte crítica ao povo africano, ao povo de Moçambique. Porque estamos habituados a ouvir e ler que África viu o seu futuro hipotecado muito por ser um continente altamente colonizado, é surpreendente como Mia coloca as questões, responsabilizando os próprios africanos pela corrupção, pela gente sem escrúpulos que lidera muitos países africanos. "A descolonização só pode ser feita pelos próprios colonizados". O texto de dá nome ao livro - "E se Obama fosse africano" - é escrito depois de lhe ter "chegado às mãos" um texto de um camaronês com o título "E se Obama fosse camaronês". É o último texto do livro, escrito em 2008, que recomendo vivamente porque retrata uma realidade que muitas vezes teimamos não ver. Começa assim:
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. (...) A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões.
(...)
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse afrincano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto.
(...)
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos, moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte. (...) A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores corruptos de África tenham o direito de de se fazerem convidados para esta festa.
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