terça-feira, junho 29, 2010

Brilhante (II)

Via Mar Salgado por FNV

Dr. K.A. MORE (V):


" A minha filha não gosta de rapazes. Falou comigo no outro dia , mas eu já sabia, já desconfiava. Nunca a vi com um rapaz. Diz que está apaixonada por uma colega, mais velha, que já está em estágio. Estou de rastos, o meu marido está em choque. O meu mundo desabou".

Pois desabou e já não há nada a fazer. Acontece. Adiante. O que lhe parece o mundo novo? A sua filha respira sozinha, estuda e ri-se, não é? E, quando a vê, a senhora dá-lhe beijos, não dá?

O seu mundo novo é velho. É ter os filhos vivos, felizes ( enfim, nesta época ensinam-lhe essse disparate da felicidade, parece que vem nas revistas) e ao pé de nós. Faz-lhe impressão imaginar um almoço com a namorada da sua filha? Claro que faz, compreendo. Antes de elas chegarem, pense em todas as vezes que teve a sua filha nos braços, vá ao álbum buscar uma fotografia antiga. O que é que conta, do princípio ao fim dos tempos? Pois é.

Brilhante

via Mar Salgado, por FNV

Dr. K.A. MORE(I):


" O meu namorado pediu-me um tempo. Tenho a impressão de que quer romper. Por que faz ele as coisas desta maneira? O que hei-de fazer?"


Depende. Se você tem 20 anos, deixe-o ir. Se começa tão cedo a acreditar nestas balelas está perdida. Pedir um tempo é a forma masculina de misericórdia. Eles agoram usam hidratantes, mas o cérebro ainda vai precisar de 50.000 anos para mudar.

Se você tem 49 anos, está divorciada e o tipo é asseado, compre uma colecção da sua série favorita de TV e aguarde. Se ele não voltar a dizer nada, tente a faixa etária 65-75.

segunda-feira, junho 28, 2010

Dos nadas

É uma espécie de fado, o "fado triste, das vielas". Quando as palavras são frágeis, inquietas. "As palavras são pedras" que podemos arremessar, só não podemos viver sem elas - "somos obrigados a pensar com palavras, a sentir com palavras se queremos pelo menos que os outros sintam connosco". Gosto da "linguagem do silêncio" mas essa não tem dicionário e por isso nem sempre a entendemos. [cresci a aprender que nem sempre temos de estabelecer diálogos para nos sentirmos bem ao lado de alguém]
Porque me aborrecem os diálogos frágeis, aqueles que não ficam nem levam a lado nenhum. É nessa fragilidade que muitas vezes nos relacionamos e é essa fragilidade que não quero, porque é a solidão no seu estado mais profundo: não é medo, não é abandono, não é ausência - é simplesmente não ser. [é perceber que tens tudo e afinal não tens nada; é ter um medo terrível de que não te apercebas disso a tempo; é o pânico de não te poder agarrar].

"I came in praying for you"

Tubo de Ensaio, Bruno Nogueira e João Quadros

É uma compilação de textos do programa com o mesmo nome que passa na TSF de 2ª a 6ª. Uma óptima leitura para a praia. B.N. e J.Q. têm alguns "ódios de estimação": a Maya, o Camilo de Oliveira, a Simara, Florbela Queirós... enfim, tudo figuras públicas de "alto gabarito". Confesso que sou uma fã do "lado negro" deste programa - e do livro - em temas sensíveis como o célebre "Caso Maddie" ou o Joseph Fritzl, "o Monstro de Amstetten". Cada capítulo tem apenas 2 páginas, em regra (são apenas uns minutos de rádio) divididos em rubricas como Deu que falar; Curiosidades; Enviado banal; Projectos para o Futuro; Ponto de vista; Pouco Provável; Entrevista de tamanho M e Sugestões para o Fim-de-semana que passou.

Uma "Entrevista de tamanho M" é com Deus. Nogueira e Quadros criam um diálogo com Deus a propósito das catástrofes que acontecem... "se Deus quiser".

Na rubrica "Curiosidades", a propósito da LEGO, apresentam alguns factos importantes: "Sabia, que o primeiro boneco criado pela LEGO, em 1979, foi o do polícia? E que, dois meses mais tarde, nasceu a primeira minifugura mulher, a enfermeira? Parece que a ideia inicial era fazer um filme porno de animação. E sabia que, só em 2003, os bonecos da LEGO passaram a ter figuras de raça negra? Pode parecer estranho aparecerem só nesta altura porque a LEGO é quase tudo à base de construções... pois, lá vem a senhora da igualdade... desculpe. (...)"

Em "Pontos de Vista", sobre Moita Flores: "O Moita Flores é um bocado o MacGyver dos comentários. Safa-se sempre, seja qual for o assunto em que se meta: vai buscar um lugar comum aqui, uma estatística ali e um conhecimento superficial sobre o tema acolá, junta tudo num discurso e acaba por se safar a passar por especialista."

É um livro leve, cómico e que recomendo. Não posso deixar de dizer, no entanto, que foi muitíssimo mal revisto (está cheio de erros e gralhas, a pontuação e acentuação deixam muito a desejar) ainda que tenha a 1ª edição - não sei se entretanto reviram os textos.

sexta-feira, junho 25, 2010

30

3 Décadas/ 3X10/ 1+29/ 31-1.

Há coisas que se repetem, mas só porque fazem sentido.

Gracias a la vida porque me ha dado tanto!

quarta-feira, junho 23, 2010

Dos Balanços que não gosto

Eu quero letras, não quero contas nem balanços.  

Hoje sei que a vida é feita para viver, e não há nada mais simples do que isso. A estrada é feita para seguir, os caminhos são para percorrer: venha quem vier, doa a quem doer. É cru, inóspito, mas as coisas são como são. Não há nada melhor do que viver o perigo duma paixão, essa "fatalidade fácil", mas às vezes temos de apanhar os "cacos".

Sou, hoje - não sei como será amanhã - as minhas opções, as minhas escolhas (tantas vezes erradas!), os caminhos que fui escolhendo, umas vezes cheia de certezas, outras simplesmente por inércia (ou irresponsabilidade).  Nunca foi urgente chegar a lado algum.

Fui a música do Chico (Vida, minha vida/Olha o que é que eu fiz/Deixei a fatia/Mais doce da vida/Na mesa dos homens/De vida vazia/Mas, vida, ali/Quem sabe eu fui feliz ), fui Morna de Mim (Acredita, Lua/Se eu fosse uma mulher/Com companhia/Não seria tão tua), fui tantas outras músicas. Quero ser Bossa Nova, quero ser Jazz, quero ser Rock. Quero ser tudo, com tudo de bom e de mau que isso implica: como a preia-mar e baixa-mar. Desde que não seja tudo e coisa nenhuma.


E no meio disto tudo - hoje - sou Feliz!

segunda-feira, junho 21, 2010

Ode ao Verão

Sai de casa e vem comigo
Para a rua, vem
Que essa vida que tens
Por mais vidas que tu ganhes
É a tua que mais perde
Se não vens

Deolinda

sexta-feira, junho 18, 2010

Luto

Estava a inserir a imagem e perguntava-me o blogger em que posição a queria. À esquerda, sempre à esquerda.
Discordei muitas vezes do que disse, algumas do que escreveu. Não posso dissocia-lo do grande escritor que é (sem ter precisado dessa confirmação quando, em 1998, foi Nobel da Literatura).
Nasceu num país que o maltratou e que ele muitas vezes criticou ferozmente. Nem sempre, do meu ponto de vista, foi coerente.
Escrevi sobre dois livros dele aqui e aqui.
Serei uma eterna leitora do que escreve, pela genialidade, pelo domínio profundo da língua portuguesa.
Estou triste e não me apetece escrever mais.
Eu sei que ele não acreditava, mas espero que agora me dê razão! :)
Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro. J.S.

Das coisas que me tiram do sério

As iluminadas deputadas socialistas Teresa Venda e Rosário Carneiro apresentaram uma proposta (que recebeu consenso no PS) de eliminar quatro feriados - 2 católicos e 2 civis - e acabar com as pontes em nome da "produtividade". E eu acho graça (só mesmo porque há coisas de que nos devemos rir, sob pena de terminarmos o nosso dia agarrados à almofada e a chorar desalmadamente porque estamos entregues aos bichos), afinal parece-me que faz todo o sentido festejar o 25 de Abril a 27 ou o Dia de Todos os Santos a 3 de Novembro só porque sim.  É mais ou menos como fazer anos a 26 de Junho quando na realidade já os fizemos há uns dias.

Temos, em Portugal, 5 feriados civis:
Dia da Liberdade - pasmemo-nos, celebrar um dia como o 25 de Abril! -
Dia do Trabalhador - que disparate, se é dia do trabalhador devíamos todos trabalhar, ora!
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades - podia fazer a piada do "zarolho", mas não faço  
Implantação da República - como este ano se celebram 100 anos até podemos acabar com ela, que já está velhinha, coitada
Restauração da Independência - eu até acho que aquela "quase lenga-lenga" que aprendíamos na escola do "1143, quem não sabe esta data não é bom Português" é um disparate, e até se ouve tanta gente a dizer que devíamos era ser espanhóis...

Os feriados católicos são 8, que não vou enumerar, apenas dizer que para mim, todos fazem sentido. Mas isso é para mim.

E depois ponho-me a pensar - coisa que faço cada vez menos e começo a achar que não devia fazer de todo - que não tenho memória de ter visto nenhuma manifestação destas duas senhoras na tolerância dada aos portugueses em geral (e depois a outros em particular) aquando da visita do Papa. Ou até quando o nosso Primeiro-Ministro nos dá, amavelmente, tolerância na tarde que precede a 6ª feira Santa ou na véspera do dia de Natal. Mas isto são pormenores: na verdade, o que interessa aqui, é que o MEU Natal celebrar-se-á sempre a 25 de Dezembro, o MEU dia da Liberdade será sempre o 25 de Abril. Venha quem vier. Porque as "pontes" que devem acabar em nome duma "produtividade" que ninguém entende - porque quem faz "ponte" tira férias, logo tem direito a ela; porque o (falso) problema da produtividade não se resolve com medidas ridículas como esta.

Avancem lá com estas medidazinhas sem sentido, em vez de se preocuparem com o que realmente altera a nossa vida. Venham lá com as "medidas de austeridade" que nós aguentamos, principalmente quando lemos notícias destas:

"O Governo já pagou o empréstimo de 450 milhões de euros que seis bancos portugueses concederam ao Banco Privado Português (BPP), com aval do Estado."

"A dívida pública portuguesa irá aumentar em vários milhões de euros devido à incorporação da RTP na esfera de contabilização das administrações públicas. Esta é uma decisão que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgará para a semana, no âmbito de uma revisão metodológica da contabilidade nacional. "

quarta-feira, junho 16, 2010

Mais pontos de vista, desta vez Cuba

É um texto extenso, que não tive tempo para ler na totalidade. Mostra aquilo que defendo há anos (política à parte) no que respeita à imprensa e aos "opinion makers": temos de ter muito cuidado com o que lemos. Penso que haverá algumas imprecisões históricas, eventualmente factuais (afinal, também aqui se aplica o "cuidado") mas está brilhante. A ler aqui.

segunda-feira, junho 14, 2010

Pontos de vista de que gosto

"(...) A antiga prostituta, muito carinhosa, enchia-lhe a vida. Amava-o como sabem amar as mulheres que venderam o seu corpo a multidões de homens. Essas mulheres são as requintadas do amor. As mestras do carinho. Conceição adivinhava-lhe os desejos. Dava-lhe essas felicidades quotidianas que os homens equilibrados conseguem e os outros tanto procuram."

Jorge Amado in "O país do Carnaval"

O País do Carnaval, Jorge Amado

É o primeiro romance de Jorge Amado, escrito quando tinha apenas 18 anos. Um relato da intelectualidade da época, num país que "maltrata" aqueles que nasceram para pensar, escrever, ser. A personagem central é Paulo Rigger, mas todos (um grupo de "pensadores") têm a sua intensidade. É um grito, uma crítica feroz ao país (foi escrito antes da revolução de 1930 no Brasil). A eterna busca da felicidade, as vidas inúteis, a desistência. Amado começa o livro com uma "Explicação": "Diante da grandiosidade da natureza, o brasileiro pensou que isto fosse um circo. E virou palhaço..." e continua: "Este livro é como o Brasil de hoje. Sem um princípio filosófico, sem se bater por um partido. Nem comunista, nem fascista. Nem materialista, nem espiritualista. [...] Eu quisera intinular este romance de «Os homens que era infelizes sem saber porquê», mas a gente tem vergonha de certas confissões. E fica-se vivendo a tragédia de fazer ironias."
Tenho dúvidas que hoje, no Brasil, este "início" não continuasse a fazer sentido. Em Portugal faz.

quarta-feira, junho 02, 2010

Isto não tem nada a ver com Dostoiévski

Não sei jogar. Não estou certa se desaprendi ou se nunca soube, mas o meu pragmatismo não me permite, hoje, jogar. Um jogo, por mais sério que seja, é sempre uma espécie de brincadeira. Eu gosto da simplicidade do "ou sim, ou sopas", "ou vai, ou racha", "ou coiso ou sai de cima". Gosto, acima de tudo, de viver com optimismo, com sorrisos e brincadeiras, mas com a seriedade que a vida merece por ter tanto valor.
Isto não pode ser uma espécie de roleta, sob pena de se tornar uma roleta russa (volto a reler o título do post e como sempre acho que não ando boa da cabeça). E há riscos que não se devem correr. Prefiro fazer a pensar como seria se tivesse feito. Executar, como um ficheiro no computador que com um simples clique se aplica (apesar do sacana do anti-vírus nem sempre funcionar). Porque nunca estamos protegidos, e ele há vírus que se apanham sem sabermos muito bem como.

terça-feira, junho 01, 2010

O Jogador, Fiódor Dostoiévski

Um retrato duma certa aristocracia europeia em estado degradante. Personagens simples (para não dizer simplórias) junto de outras de uma enorme densidade. Dostoiévski transforma um livro escrito no sec. XIX numa obra intemporal, quer no que respeita ao problema do jogo, quer na questão das mentalidades. É também uma crítica à cultura europeia, F.D analisa criticamente os "franceses", "alemães", os "russos" e os "ingleses" principalmente através da personagem central (e essencial) Alexei Ivanovich, o russo que desde cedo tem noção do "perigo" do jogo, mas que acaba por se perder nele.
A ler.

(...)

via Postsecret